Percebes?                           

Quem leu as "Vinte mil léguas submarinas", de Júlio Verne, recordará que o Capitão Nemo frequentava, com o seu submarino "Nautilus", as águas galegas: Diz o livro que era para rechear os seus cofres com o ouro dos galeões espanhóis, afundados no local. Omite, mas é capaz de ser verdade, que um dos objectivos do Capitão era apanhar o seu marisco preferido - os percebes.. pelo menos é o que juram os galegos...
Nunca se poderá confirmar esta versão da história mas, a ser verdade, é inegável que o Capitão Nemo (ou Júlio Verne, por ele) tinha bom gosto...
 
Os percebes - de seu nome latino  Pollicipes elegans - fazem as delícias de muita gente. Embora tenham aquele aspecto de "unhas encardidas", são crustáceos que, depois de passar, na sua juventude, pela fase de larvas, que nadam de forma errática pelo mar, cansam-se de ver o mundo e adoptam a sua forma adulta, criando raízes. E onde param, ficam para sempre...  até irem parar à boca de um humano, claro.
 
O maior predador de percebes é, naturalmente, o Homem... e por vezes os sargos (que podem ser peixes, mas não são parvos)...
Os percebes precisam de água muito batida, limpa e bravia, com uma base rochosa e não arenosa. Precisam também que o sol os tisne com regularidade (realmente, não se compreende como o Baleal tem percebes, raramente tendo sol, ou será esta a prova que faltava de que o Baleal TEM sol?!?). E também precisam de chuva (aí sim!, estamos entendidos) para que a água doce estimule o seu crescimento. O facto de estarem parte da sua vida acima da linha de água também contribui para que cresçam mais rapidamente. Em seis meses conseguem atingir o tamanho comercial (pelo menos cinco centímetros de comprimento e dois de diâmetro). Segundo os pescadores galegos, este tamanho é meramente comercial, e diz exclusivamente respeito aos percebes. Mas os entendedores sabem, por exemplo, que não é o tamanho que determina se os percebes são bons ou não, e não devem ser demasiado curtos nem demasiado grandes.

São hermafroditas, mas incapazes de se auto-fecundarem. Assim, um actua como "macho" e o outro como "fêmea" (é caso para perguntar: para quê tanta complicação?).


E comê-los???
Cozê-los é simples (ver a receita).: E devem comer-se quentes, dizem os especialistas.
Cuidado também para o suco dos percebes ir para a boca e não para a camisa... o que obriga a abri-los por baixo e não por cima...
São caros? Bom, baratos não serão, porque se o fossem era sinal de que não vinham do Baleal... e, como canta o Sérgio Godinho: "cuidado com as imitações..."
Em Espanha, a produção de percebes é de 336 toneladas, valendo perto de 7 milhões de euros. A extracção de percebes dá emprego fixo a 1.500 pessoas e indirecto a cerca de 2.500... mas o prazer de os saborear chega a vários milhões de pessoas, incluindo alguns sócios do Arre-Burro, verdadeiros percebo-maníacos... alguns, mesmo, percebo-dependentes....
 
 

 
 
Fotografia: Mário Cordeiro
Voltar ao menu principal