Os jesuítas em Portugal - parte II
A expansão em Portugal foi acompanhada desde o início por grande empenho missionário e em 1542, S. Francisco Xavier desembarcou em Goa. A evangelização do Oriente continuou, a cargo de sucessivas levas de missionários que diversificaram as regiões alcançadas, nomeadamente Macau, bem como em África e Brasil.
A todas as regiões que missionaram, os jesuítas levaram a preocupação pedagógica que os caracterizava. A linguística foi outro campo em que se tornaram beneméritos. A preocupação de aprender as línguas dos povos que evangelizavam levou-os a elaborar gramáticas e dicionários e a publicar obras de catequese e outras nas mais variadas línguas. Em dois séculos de apostolado missionário, sofreram o martírio mais de 150 jesuítas portugueses, entre os quais São João de Brito.
Toda esta actividade foi bruscamente interrompida por decisão do Marquês de Pombal, em 1759, ao ser decretada a expulsão dos jesuítas de todos os territórios portugueses - a Companhia de Jesus era um obstáculo ao projecto político que se pretendia implementar, um sistema centralizado no Estado Os meios usados para a expulsão foram implacáveis, tendo sido expulsos 1.100 jesuítas.
A 7 de Agosto de 1814, a Companhia de Jesus foi restaurada pelo papa Pio VII. No entanto, só por iniciativa do governo de D. Miguel, é que os jesuítas regressaram de novo a Portugal mas quando o exército liberal ocupou Coimbra, os jesuítas foram presos e embarcados para Itália.
O protagonista do segundo regresso dos jesuítas a Portugal foi o português Carlos João Rademaker, entrado na Companhia de Jesus em Itália, em 1846. Em 1858, deu início ao colégio de Campolide e em Setembro de 1863, constituiu-se oficialmente a Missão Portuguesa. Em 1902 foi fundada a revista Brotéria, assim denominada em homenagem ao naturalista português Avelar Brotero.
Toda esta actividade foi interrompida violentamente, em Outubro de 1910, quando, pela terceira vez na sua história em Portugal, a Companhia de Jesus foi de novo expulsa e espoliada dos seus bens, tendo já começado o ambiente de perseguição nos últimos anos da monarquia. Os membros da Província Portuguesa eram, então, 360. A Constituição de 1933, abolindo as leis de excepção por motivos religiosos, e o decreto de 12 de Maio de 1941, reconhecendo a Companhia de Jesus como corporação missionária, normalizaram a situação jurídica dos jesuítas em Portugal.
Ao longo dos anos quarenta e cinquenta, os principais centros da presença dos jesuítas adquiriram a localização que, substancialmente, ainda mantêm. Nos anos setenta, apesar da diminuição de efectivos, incrementou-se a presença ao Sul do Tejo com a inserção em zonas operárias ou carenciadas onde os jesuítas se responsabilizaram por várias paróquias.
Em paralelo com o que acontecera em tempos mais distantes, os últimos decénios viram os jesuítas portugueses ocupados num amplo leque de actividades: educação e ensino, formação espiritual, trabalho paroquial, missões, meios de comunicação social, presença na cultura e na investigação. Como no passado, surgiram figuras de relevo em vários campos do conhecimento. A Brotéria continuou a ser publicada regularmente, tanto na série científica como na cultural, e surgiram novas revistas de investigação.
Nuno da Silva Gonçalves, SJ.